quinta-feira, 24 de junho de 2010

Trabalho com a família- equipa



Quando comecei a reflectir sobre o trabalho com as famílias para redigir esta reflexão, senti necessidade de incluir o trabalho em equipa. Pois para mim, o trabalhar com a família está implícita a capacidade do educador trabalhar em equipa. Pois o educador não ensina sozinho, precisa dos pais e família e outros profissionais para facilitar o seu trabalho mas também para permitir às crianças o seu desenvolvimento integral e harmonioso. “ Quando nasce um bebé, não nasce apenas uma criança, nasce também uma mãe, um pai, um irmãozinho, uma avó, que vão constituir-se enquanto tais na interacção com um novo membro da família. Assim é impossível falar no desenvolvimento de uma só pessoa em separado do seu contexto social, pois no desenvolvimento estão envolvidos múltiplos protagonistas, com necessidades desenvolvimentais próprias criadas situações históricas especificas. Todos participam activamente desse processo, construindo-se e constituído-se nas interacções que estabelecem uns com os outros.” (OLIVEIRA; MELLO; VITÓRIA; FERREIRA, 2003: 31/32)
Nas instituições de uma maneira geral existe um trabalho de equipa muito presente quer através das formações entre profissionais, quer pela realização de reuniões quinzenais. No entanto nas reuniões quinzenais, quase sempre são realizadas apenas e só entre educadoras, de forma independente das auxiliares. Compreende-se porque alguém tem que assegurar e apoiar as crianças, no entanto na minha perspectiva seria muito importante educadoras e auxiliares estarem presentes e estas reuniões fossem marcadas para um horário depois da hora lectiva. Pois, parece-me que as educadoras e auxiliares, devem tomar conhecimento de tudo tal como as Educadoras e para além do mais a equipa trabalhará de forma mais unificada. “ ninguém ensina sozinho” porque se ensina em equipe, numa inteligência colectiva da situação que se deve gerir.”. (PLATONE; HARDY, 2004:17)
Para realizar um excelente trabalho em equipa a Educadora deve reflectir semanalmente e sempre que necessário com as auxiliares no sentido de avaliar as posturas do educador perante as necessidades individuais da criança. Semanalmente, a Educadora avalia e regista com a equipa as actividades e os progressos das crianças, planificando as actividades futuras da semana seguinte. Perante dificuldades ou tomadas de decisão a Educadora deve pedir a opinião de outros profissionais (auxiliares ou outros membros da comunidade) pois todos devem estar envolvidos na educação das crianças para além de que “ se os adultos trabalharem em equipa, as crianças beneficiam de um programa variado, mas que tem uma linha unificadora.” (BRICKMAN: TAYLOR, 1996: 189)
Trabalhar com as famílias é indispensável para pais e educadores e crianças. O desenvolvimento harmonioso e integral da criança está dependente das relações que se estabelecem com as famílias. Qualquer projecto pedagógico ou de sala deve preconizar uma relação estreita com a família. (…) (…) a relação com as famílias deve integrar o currículo e o projecto de trabalho, optimizando o trabalho de equipa a discussão e a procura de estratégias, a troca de opiniões e perspectivas sobre esta temática. As famílias precisam de espaços coerentes e harmoniosos para se expressarem e desenvolverem iniciativas.” (LEMOS, 2008) Apontamentos da disciplina de Gestão da Instituição Educativa, ESE, Novembro 2008). Cada criança, tem uma identidade própria e é portadora de uma herança cultural e genética. Se o educador privilegiar a comunicação com a família podemos conhecer melhor a criança e os seus gostos. “Trabalhar com os pais parece ser a melhor estratégia para a promoção do bem-estar e desenvolvimento da criança”.(PORTUGAL,1997:27). Em qualquer fase da escolaridade é importante estabelecer uma relação forte com as famílias e na creche mais ainda, pois as crianças são entregues a profissionais e os pais necessitam de confiar nestes profissionais. Além do mais esta estreita ligação permite vantagens para as crianças, “ quanto mais pequena é a criança maior é a necessidades de estabelecer relações intimas de parceria com as famílias para evitar os problemas de sobreposição das funções. (FIGUEIRA, 1998:69 cit: KATZ) Pois todos sabemos que a família é insubstituível, no entanto os pais por vezes sentem-se lesados porque a criança passa grande parte do tempo com os profissionais e muitas vezes demonstra ter maior empatia com a pessoa que cuida dela a maior parte do tempo. Quando era auxiliar da sala berçário, antes de ingressar para a faculdade, eu passei por este tipo de situação, no entanto ainda não tinha saberes teóricos para explicar aos pais. Actualmente os colégios procuram integrar activamente a família no seu desenvolvimento curricular, realizando o dia dos avós, os avós são convidados a passar a manhã e almoçam no colégio e trazem um bolinho para partilhar com os outros avós. Este tipo de iniciativa é muito importante pois os avós são indispensáveis no desenvolvimento da criança.
Os colégios deveriam todos possuir um documento informativo para as valências creche e jardim-de-infância especificando os princípios orientadores da prática educativa nas salas, demonstrando um carácter profissional e sensível. É sabido que os pais quando se separam dos filhos sentem muitas dúvidas e anseios na escolha do colégio onde irão educar a criança este documento facilita e apoia a necessidade dos pais.
. À semelhança do que é referido por Gandini e Edwards (2002), a Educadora e a instituição devem utilizar três estratégias para aproximar a família: a organização - através dos horários, registos e honorários.; a comunicação: partilha de informação através de reuniões e documentação; intercâmbio - incluir os pais nos festejos, viagens. Inicialmente quando um bebé ingressa na sala, a educadora deve fazer uma entrevista aos pais com perguntas relativas à personalidade da criança aos hábitos alimentares, hábitos de sono. Esta primeira abordagem é crucial para educadores e pais. Posteriormente a Educadora deve ter a preocupação em inserir os pais na sala com vista a apoiar a criança no processo de adaptação mas com certeza também com o intuito de tranquilizar a mãe e dar oportunidade a esta para observar os cuidados dos profissionais. Existem muitas vantagens para a Mãe para o Educador pois ambos observam as necessidades do bebé “ a presença da mãe na creche permite à mãe e à Educadora observarem-se mutuamente. A mãe ganha confiança observando como a educadora cuida dos outros bebés. A educadora, por sua vez, ao observar a interacção mãe filho, vai perceber como a mãe regulariza a actividade do bebé: como este, através das diferentes formas de chorar, de sorrir ou de colocar os braços, lhe dará indicações de desconforto, fome, prazer.” (FIGUEIRA, 1998:67) Os educadores começam a conhecer melhor a criança e numa perspectiva de continuidade procuram ajustar os seus comportamentos às necessidades e gostos da criança.
A relação escola família pode ser feita também através do caderno de correspondência, diário de grupo, por conversas informais e por dinamização de placards no exterior e existe uma planificação das actividades pedagógicas que são expostas semanalmente. As salas podem possuir também um blogue onde são colocados filmes, fotos e textos sobre as actividades significativas da semana.
No que se refere aos cadernos de correspondência penso que este instrumento é muito importante pois são registados os progressos de desenvolvimento das crianças assim como as actividades mais significativas. E nunca são escritos recados no caderno no sentido de pedir fraldas ou pomadas, pois temos que perceber que o caderno não é um meio de comunicação que utiliza recados mas sim avalia e partilha aos pais as conquistas das crianças. “ os diários devem ser livros dos quais tanto as crianças quanto adultos possam gostar, por isso eles devem ser bonitos. A beleza enriquece e gratifica aqueles que elaboraram o livro e aqueles que o leêm” ( DWARS; GANDINI, 2002: 172). Como futura educadora utilizarei este instrumento pois penso que o desenvolvimento da criança envolve etapas e essas etapas devem ser seguidas e registadas atentamente. O tempo passa e ficam os registos das preferências das crianças, dos progressos que os pais gostaram mais tarde de consultar. Até porque os pais muitas vezes sentem-se culpados por perderem alguns momentos significativos de desenvolvimento do bebé e com as fotografias e os textinhos podem sempre visualizar e ter a noção de todas as etapas de desenvolvimento do seu bebé e inclusive participar. “ a documentação não é somente algo que os educadores oferecem às famílias, mas também uma forma de convocar os pais a participarem directamente e oferecerem pontos de vista com relação ás experiências que as crianças estão vivendo”. (GANDINI; EDWARDS, 2002:27)

Neste caderno de correspondência pretende-se que os pais partilhem informações e progressos da criança em casa, no entanto, por vezes os pais apenas assinam. Na minha perspectiva é muito importante favorecer a partilha de informação com os pais através do registo no caderno pois através deste meio “ os educadores trabalham em parceria com os pais partilhando observações das crianças e procurando providenciar consistência entre as experiências de em casa e fora de casa”.(POST E HOHMANN, 2007:15)
Relativamente ao diário de grupo, penso que não é um instrumento muito importante na creche etária pois cada criança tem um ritmo próprio e crianças com menos idade necessitam de dormir mais um bocadinho, e neste diário são escritos as actividades do grupo em geral. Embora neste diário sejam também colocados os aniversários das crianças e as crianças que estão a ser integradas na sala. No entanto existem vantagens na utilização deste instrumento uma vez que, é uma forma de partilhar com os pais a importância das interacções das crianças, e de como a creche cada vez mais é um local de aprendizagem.
O outro instrumento de partilha é a planificação semanal exposta para os pais. Apesar de enquanto futura educadora não irei utilizá-la, embora penso que se deva planificar semanalmente mas não expondo essa planificação aos Pais. A educadora na sua folha de planificação avalia as experiências e o desenvolvimento das crianças, o que é muito vantajoso, permite ao educador reflectir estratégias para favorecer aprendizagens significativas á criança e apoiar passo a passo desafiando a criança a níveis superiores. Neste sentido avaliar assume grande importância, para além do mais o Educador deve “avaliar, portanto, menos os resultados e mais os processos e o contexto educativo na sua complexidade”( GUIMARÃES; LEITE cit: GALLARDINNI, 1996:3).

Relativamente à comunicação esta é feita também através de conversas informais penso que estas também são importantes, uma vez que, na minha perspectiva os pais também precisam de sentir que os profissionais que tratam dos seu filhos e estão disponíveis para uma palavra amiga, ou mesmo pelo que tenho observado precisam de um bocadinho para nos contar uma conquista que a criança fez em casa, ou alguma situação que pensam ser interessante partilhar. As conversas informais são feitas aquando a entrega da criança e no fecho. As conversas da entrega centralizam-se no bem-estar das crianças, os pais normalmente dizem se a criança dormiu bem e expõem situações interessantes passadas com as crianças. Nestes momentos são também fornecidos os recados se precisa de fraldas, ou pomada, ou de roupa. No final do dia são transmitidos as informações de como a criança esteve. Existe também o horário de atendimento aos pais que é flexível, são os pais que comunicam à Educadora com 48 horas de antecedência o dia para comunicarem.
No que diz respeito às actividades de exploração os pais consultam o diário de grupo e muitas vezes consultam a folha diária da criança. Como futura Educadora seleccionaria alguns mapas informativos tais como: mapa dos cocós, a folha diária e o caderno de correspondência pois a minha prática iria incidir por interacções estruturadas mas mais espontâneas que envolvessem mais a organização do espaço educativo.
Um outro instrumento de partilha importante e mais conhecido para o envolvimento dos pais, é a realização periódica de reuniões de pais/encarregados de educação, reuniões essas que “aumentam a confiança mútua e aprofundam as relações entre a escola e os pais” (MARQUES, 1988: 27) As reuniões são trimestrais e as avaliações das crianças também. As reuniões formais são importantes na medida em que permitem ao educador expor aos pais o trabalho que desenvolve com as crianças bem como as intencionalidades educativas que tem ao longo de todo este processo. Desta forma, estes encontros e reuniões ao longo do ano lectivo “permitem aos pais e professores compartilhar informações sobre as crianças e fazer perguntas específicas relacionadas com áreas importantes do comportamento delas” (SPODECK e SARADACHO, 1998: 174). Como estagiária pude organizar uma reunião( power point), embora estivesse um pouco nervosa penso que correu bem. Planifiquei uma actividade para os pais e falei das actividades que elaborei na sala recorri a fotografias para ilustrar assim como a fundamentos teóricos. No decorrer da minha reunião expliquei aos pais a importância do meu projecto de investigação no desenvolvimento e aprendizagem das crianças.
A reunião de pais é um momento de grande tensão não só para o educador como para os pais/encarregados de educação. Deste modo decidi fazer o jogo da teia. Com um novelo de lã os pais apresentavam-se diziam o seu nome e qual as expectativas acerca da reunião. “os jogos promovem uma comunicação efectiva. Neste aspecto, não é de mais salientar a sua utilidade. Ao auxiliar o relaxamento dos indivíduos em grupos, os jogos podem proporcionar o fluxo comunicativo entre desconhecidos e, particularmente, entre pessoas tímidas que necessitam de maior encorajamento. Há ainda a acrescentar que podem debelar hostilidades e remover barreiras.” (BRANDES E PHILLIPS, 1977: 9)
Ainda sobre o envolvimento da família a Educadora prepara uma festa na sala para o bebé que faz anos e quase sempre os avós acompanham os pais. Cantam-se os parabéns ao bebé e tiram-se fotografias este momento também fica registado no caderno de correspondência e no diário de grupo.
Na minha perspectiva o educador deve sempre registar as experiências com vista e as evoluções da criança, “A prática do registro das experiências, prática de registro documentação, feita diariamente, permite ‘voltar’ sobre o que foi feito, partilhar com os outros o próprio trabalho e, também, devolver às crianças, de forma mais qualitativa, os resultados das experiências delas” (GALLARDINNI, 1996b:12).
Penso que os suportes digitais são muito importantes na profissão de educadores de infância, as fotografias e os vídeos são registos que auxiliam o educador nas observações e permitem aos pais acompanhar o desenvolvimento das crianças. Através do blogue os pais podem consultar diariamente os vídeos e as fotos e até comentar. Estes instrumentos são uma mais-valia para informar os pais sobre as actividades diárias das crianças e partilhar com os pais as propostas pedagógicas dos educadores. Para além de que através dos vídeos, fotos e registos e educador avalia o desenvolvimento das crianças.
É muito importante o educador possuir instrumentos que favorecem a comunicação e registos diários com a família pois permite que os pais se sintam confiantes, interventivos e estejam atentos na educação das crianças pois a infância é uma etapa tão intensa e um alicerce imprescindível na vida de qualquer cidadão.



















Bibliografia

 BRANDES, Donna; PHILLIPS, Howard (1977). “Manual de jogos educativos – 140 jogos para professores e animadores de grupos”. Lisboa: Moraes Editores. Edição n.º 1028.

 BRICKMAN; TAYLOR (1996) - Aprendizagem activa. Lisboa, Editora Fundação Calouste Gulbenkian.

 FIGUEIRA, (1998). Ser educador na creche. Cadernos de educação de infância nº48/98.

 GANDINNI, Lella; Edwards, Carolyn (2002). Bambini A abordagem Italiana à educação infantil. Brasil Editora Artmed. ~

 GUIMARÂES; Daniela; LEITE, Maria (s/d). A pedagogia dos pequenos: uma contribuição dos autores italianos. Arquivo capturado no dia 4 de Maio de 2010- http://www.ced.ufsc.br/~nee0a6/GUIMARAE.pdf

 HOHMANN, POST (2007) - Educação de bebés em Infantários: Cuidados e primeiras aprendizagens. 2ª Edição. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.

 LEMOS, Ângela 2008. Apontamentos da disciplina de Gestão da Instituição Educativa, ESE, Novembro 2008.
 MARQUES, Ramiro (1988) “A escola e os pais: e como colaborar?”. 1ª. ed. Lisboa : Texto.

 SPODEK, B; SARACHO, O. (1998). “Ensinando crianças dos 3 aos 8 anos”. Porto Alegre: Edições Artmed.

 OLIVEIRA; MELLO; VITÒRIA; FERREIRA (2003). Creches: Crianças, Faz de conta & cia. Petrópolis. Editora Vozes.

 PORTUGAL, Gabriela (1997). Crianças, famílias e Creches- Uma abordagem ecológica da adaptação aos bebés à creche. Lisboa. Porto Editora.

 PLATONE, Françoise; HARDY, Marianne (2004) - Ninguém ensina sozinho, Responsabilidade coletiva na creche, no ensino fundamental e no ensino médio; Artmed; Brasil.

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