sexta-feira, 25 de junho de 2010

Relações e Interacções

A Importância das Relações e das Interacções

Um dos aspectos fundamentais em Creche é a qualidade das relações afectivas que se estabelece com cada criança, daí que o currículo de Creche se defina principalmente pela qualidade da relação humana que se proporciona e pela qualidade das experiências proporcionadas, em detrimento da quantidade.
Tão ou mais importante que tudo o resto é o ambiente afectivo que se vive em Creche. Os afectos, as relações e a interacção família-escola deverão ser, por isso, os aspectos mais valorizados. Devemos ter em conta que a Creche é como uma segunda casa e a equipa que partilha o dia-a-dia com as crianças deve ser como uma segunda família.
Cada criança é única, com uma história pessoal e uma família que tem de ser integrada e respeitada. Logo, em Creche devemos, sobretudo, preocuparmo-nos com os alicerces, garantir que as boas experiências, plenas de afecto, serão o terreno para uma construção segura no futuro.
A interacção entre adultos e crianças é muito importante em contexto de Creche, partindo do princípio que “Relações consistentes e estimulantes com as mesmas pessoas que cuidam da criança (…), desde cedo e ao longo da infância, são as pedras angulares da competência emocional e intelectual…” (POST; HOHMANN, 2007: 59). É através da criação de laços e relações afectivas com as crianças que se consegue que estas se sintam seguras e confiantes, contribuindo assim para que se tornem autónomas nas suas acções.
O educador deve ser um observador participante, consciente da importância do seu papel, reconhecendo quais as necessidades, interesses, competências e dificuldades das crianças, às quais lhes deve oferecer apoio e colocar novos desafios. Segundo HOHMANN e WEIKART (2007: 69), é de realçar que “… quando os adultos têm paciência para olhar para este tipo de situações do ponto de vista da criança, acabam por reconhecer a importância de as encorajar a começar a resolver os seus problemas, preparando assim o terreno para experiências de aprendizagens que formam crianças com sentimentos de competência e de auto-respeito.”
Os adultos devem interagir com as crianças de uma forma respeitosa, como acontece na 1ª Sala de Actividades em que os adultos quando se dirigem às crianças adoptam uma postura de atenção, de consideração e de empatia. As interacções existentes entre adultos e crianças implicam também que os adultos participem nas brincadeiras com as crianças nas diferentes áreas e, de facto, é visível que nesta sala os adultos preocupam-se em ajudar as crianças e motivá-las na execução do que estão a fazer. Como vem referido nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (1997: 52) “As relações e as interacções que o educador estabelece com cada criança e com o grupo, a forma como apoia as relações e interacções entre crianças no grupo, são o suporte dessa educação.”
Apesar de tudo, deve ser respeitado o ritmo e o interesse de cada criança, valorizando, desta forma, as aprendizagens de cada uma delas e incentivando-as a chegar a níveis de desenvolvimento mais avançados. Daí que se considere que “As interacções com [as] crianças podem ser tão variadas e diversas quanto as próprias crianças, pelo que os educadores procuram adaptar o seu estilo de interacção a cada criança individualmente.” (POST; HOHMANN, 2007: 69).
Na 1ª Sala de Actividades existe uma preocupação, por parte dos adultos, em dar apoio a todas as crianças, pelo que são estabelecidas, desta forma, notórias relações de afecto e confiança entre adulto e criança. No fundo, “A relação que o educador estabelece com cada criança, a forma como a valoriza e respeita, estimula e encoraja os seus progressos, contribuem para a auto-estima da criança e constituem um exemplo para as relações que as crianças estabelecerão entre si.” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997: 53).
Enquanto futura educadora de infância acredito que a base do nosso trabalho é, sem dúvida, o amor, o carinho, o afecto… fundamental para que as crianças se desenvolvam em harmonia. Esta concepção advém da minha personalidade e da minha maneira de estar na vida, com os outros, em grande parte por ter sido criada no meio de muito amor e continuar a sê-lo.
Relativamente à comunicação, na 1ª Sala de Actividades observa-se uma relativa dedicação a esta expressão. Apesar das idades das crianças desta sala, as conversas de grande grupo constituem momentos de partilha, onde se falam das experiências vividas, por exemplo, o que se fez no fim-de-semana, eventuais conflitos ocorridos em sala, etc., porque “Quando uma criança fala de um tema no qual tem interesse especial, [o] adulto ouve atentamente e faz comentários e observações que se relacionam com o assunto.” (HOHMANN; WEIKART, 2007: 6). Assim sendo, leva-me a considerar que as crianças na 1ª Sala de Actividades são ouvidas, apesar de algumas delas ainda não verbalizarem. As crianças exprimem as suas ideias, desejos e sentimentos da forma que conseguem.
Será importante mencionar que a educadora São, na grande maioria das vezes, não está presente na hora do recreio, aproveitando este tempo para tratar de outros assuntos. A meu ver, este é um aspecto negativo, uma vez que também no espaço exterior pressupõe-se que educadores e auxiliares participem nos diversos momentos e brincadeiras, mas que dêem igualmente o espaço suficiente a cada criança para que possa fazer as suas explorações livres. Tenho-me apercebido de que, por acaso, as auxiliares de acção educativa, mesmo de outras salas, para além de se ocuparem da vigilância das crianças, têm um papel activo e interventivo nas brincadeiras das crianças. De facto, o espaço exterior “…é igualmente um espaço educativo. Pelas suas potencialidades e pelas oportunidades educativas que pode oferecer, merece a mesma atenção do educador que o espaço interior.” (Ministério da Educação, 1997: 38-39).
No decorrer da minha prática pedagógica constatei ainda que a educadora São na hora do almoço e do lanche das crianças nem sempre acompanha a refeição toda. Todavia, deveria fazê-lo, tendo em conta que é na hora das refeições que, por exemplo, se transmite uma mensagem bastante importante relativamente à prática de uma alimentação saudável e ao ambiente de convívio e interacção social que se pode desencadear entre as crianças e os adultos. Como salienta POST e HOHMANN (2007: 225) “Ao tomarem parte integrante das refeições das crianças, os educadores enviam uma mensagem positiva não só sobre o acto de comer como também sobre as relações sociais…”.
No meu ponto de vista, não se podem considerar importantes apenas os momentos vividos dentro da sala, pois todos os outros também são parte integrante do desenvolvimento das crianças, sendo fulcral a presença da educadora. Tanto a hora do recreio como a hora do almoço são momentos da rotina diária ricos em aprendizagens e como tal, a presença constante dos adultos, bem como a interacção existente entre as crianças e os adultos é fundamental.
O grupo de crianças da 1ª Sala de Actividades é composto por 14 crianças, seis do sexo feminino e oito do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 meses de idade. Neste grupo ainda não são bem visíveis as relações de entreajuda e as atitudes de cooperação entre os pares, nem a existência do grupo dos rapazes e o grupo das raparigas, devido à sua faixa etária. Nota-se que o grupo, em geral, é unido, brincando todos uns com os outros e, no fundo, é nestes momentos de brincadeira que “As crianças despendem grande parte do seu tempo com os seus amigos e aprendem, com eles, diferentes tipos de competências sociais – negociação, comunicação interpessoal, capacidades de aprendizagem, de desenho, jogos e regras, etc…” (DORNELLES, 2007: 55). Este é um grupo preocupado em saber o que se passa com os seus colegas, pois construíram uma boa relação com todos os que fazem parte da sua vida diária na escola, e é ainda um grupo alegre e empenhado nas tarefas que lhes são pedidas.
É muito importante nestas idades as crianças poderem relacionar-se com crianças da mesma faixa etária, pois assim começam a perceber a noção das interacções e da reciprocidade, ou seja, a criança, uma vez que tem de se relacionar com os outros para poder crescer de uma forma saudável, deve entender que tem de dar para assim poder receber. Tal como refere BRAZELTON (1995: 492) “A criança aprende quais os sinais que significam que tem de ceder e quais os que significam que pode assumir a liderança.”
Para que haja este tipo de interacções dentro de uma sala de Creche ou Jardim de Infância é necessário que o educador dê espaço às crianças, para que elas possam conviver e aprender, certos conceitos, sozinhas. O educador deve ser, sobretudo, um observador participante, para que assim possa registar as novas aprendizagens de cada uma das crianças.
Efectivamente, na 1ª Sala de Actividades é dado espaço às crianças, para que elas possam conviver, interagir e vivenciar novas experiências, à excepção da Gorete (auxiliar de acção educativa) que tem alguma dificuldade em fazê-lo. Porém, todos os elementos da equipa de sala estão presentes para quando algumas das crianças lhes querem transmitir alguma conquista ou alguma frustração. FIGUEIRA (1998) defende que “A presença do adulto deve ser calorosa mas discreta, assegurando uma atitude comunicante e participante, sem intervir mais do que o necessário. (…) deve (…) facilitar a constituição do grupo e da sua dinâmica, facilitando as interacções entre as crianças.” (pág. 69-70).
Relativamente aos conflitos acontecem e de forma muito regular, o que se deve à idade das crianças da 1ª Sala de Actividades. No que se refere à resolução dos conflitos ainda é necessária a intervenção dos adultos, na grande maioria das situações, até porque as próprias crianças solicitam frequentemente a nossa ajuda e vêm fazer «queixinhas», apesar de eu incentivá-las a tentarem resolver os conflitos autonomamente. Mas, de facto, “Com o apoio dos educadores, as crianças pequenas desenvolvem e treinam a capacidade de resolver muitos dos seus próprios conflitos sociais. Através dos seus esforços, exercitam competências de reflexão e de raciocínio, ganham um sentido de controlo sobre as soluções ou consequências de um problema, experimentam a cooperação e desenvolvem confiança em si próprias, nos seus pares e nos seus educadores.” (POST; HOHMANN, 2007: 92).
Considero que com este comportamento não estou a «fugir» ao meu papel de orientadora e mediadora, mas sim a tentar que as crianças resolvam os seus problemas autonomamente e aprendam a negociar com os seus pares, pois, na minha opinião, “…oferecer soluções eficientes vindas do adulto poderá poupar tempo, mas deprivará as crianças de oportunidades de aprendizagem importantes, bem como da satisfação que advém de desenvolverem e concretizarem as suas próprias soluções.” (HOHMANN; WEIKART, 2009: 583).
As crianças em idade de Creche, gradualmente, já “…procuram activamente companheiros e associados para observar, brincar ao lado de, imitar, falar com, e interagir ludicamente.” (HOHMANN; WEIKART, 2009: 573). É isto que acontece na 1ª Sala de Actividades. As brincadeiras e jogos que pude observar durante a minha prática pedagógica, tanto na sala como no recreio, demonstram a amizade (já) existente entre as crianças.
É no espaço exterior, nos momentos de recreio, que se juntam todas as crianças da Creche, existindo, desta forma, interacções transversais entre salas. Ao longo da minha prática pedagógica pude constatar que as crianças da 2ª Sala de Actividades brincam mais em conjunto do que as de qualquer uma das outras salas, que por norma andam mais dispersas, o que se deve também às idades das crianças. De uma maneira geral, o espaço exterior é bastante apreciado pelas crianças, o que se justifica na medida em que “…abordam as experiências ao seu ritmo e intensidade.” (Hohmann; Weikart, 2009: 432).
A interacção criança-criança é, no meu entender, determinante em idade de Creche, sendo nesta altura que as crianças vivem experiências extremamente enriquecedoras para o seu desenvolvimento pessoal e social. Portanto, “O desenvolvimento pessoal e social assenta na constituição de um ambiente relacional securizante, em que a criança é valorizada e escutada, o que contribui para o seu bem-estar e auto-estima.” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997: 52).
Intimamente ligada às relações e às interacções está a vinculação. Primeiramente é necessário explicitar o conceito de vinculação. Segundo GUEDENEY (2004: 33) “O sistema de vinculação define-se como aquilo que mantém a proximidade e o seu corolário interno, o sentimento de segurança. Tudo o que favorece a proximidade, dando uma sensação de segurança, pertence ao comportamento de vinculação.” Actualmente, a noção de comportamento de vinculação “…é definida como uma unidade funcional de comportamento: não é tanto a especificidade do comportamento em si mesmo que conta mas o como e a finalidade desse comportamento. Se um comportamento é organizado com o objectivo de promover a proximidade, então funciona como um comportamento de vinculação.” (GUEDENEY, 2004: 33).
Relativamente à pessoa por quem se desenvolve este comportamento, GUEDENEY (2004) afirma que “Uma figura de vinculação é uma figura em direcção à qual a criança irá dirigir o seu comportamento de vinculação.” (pág. 34-35). Este autor refere ainda que “…é susceptível de se tornar figura de vinculação qualquer pessoa que se envolva numa interacção social viva e durável com o bebé e que responda facilmente aos seus sinais e às suas aproximações.” (GUEDENEY, 2004: 35).

Referências Bibliográficas

Ordenadas por ordem alfabética.
Referências bibliográficas baseadas na norma portuguesa 405 (NP405).

· BRAZELTON, T. Berry – O Grande Livro da Criança: O desenvolvimento emocional do comportamento durante os primeiros anos. 11.ª edição. Lisboa: Editorial Presença, 1995.
· DORNELLES, Leni Vieira – Produzindo Pedagogias Interculturais na Infância. Petrópolis: Editora Vozes, 2007. ISBN 978-85-326-3444-3.
· FIGUEIRA, Maria Cristina Corrêa – Ser Educador na Creche In Cadernos de Educação de Infância. N.º 48. 1998. Pág. 69-70.
· GUEDENEY, Nicole; GUEDENEY, Antonie – Vinculação: Conceitos e Aplicações. 1.ª edição. Lisboa: Climepsi Editores, 2004. Pág. 131-140. ISBN 972-796-103-7.
· HOHMANN, Mary; WEIKART, DAVID P. – Educar a Criança. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009. ISBN 978-972-31-0797-5.
· MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Lisboa: Departamento da Educação Básica, 1997. ISBN 972-742-087-7.
POST, Jacalyn; HOHMANN, Mary – Educação de Bebés em Infantários: Cuidados e Primeiras Aprendizagens. 3.ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007. ISBN 978-9772-31-1018-0.

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