quarta-feira, 23 de junho de 2010

Momentos e Aprendizagens Partilhados com as Familias


O Jardim de Infância nº2 de Benfica tem excelentes espaços exteriores, espaços estes que não são utilizados para proveito das crianças. Tendo este aspecto em conta, e sabendo a importância que a relação com espaço físico exterior tem no desenvolvimento da criança, principalmente se for dotado de árvores e verde, criei uma acção do meu projecto que pudesse dar resposta a esta ausência de aproveitamento do espaço exterior. Propus à coordenação do Pré-escolar e, posteriormente, ao agrupamento da Quinta de Marrocos, o aproveitamento de algum espaço para a criação de uma Horta. A proposta chegou com carimbo verde.

Quando tive a resposta final, comecei a planificar algumas das actividades que gostaria de realizar. Durante a Festa do Dia do Pai, aproveitei para conversar com todas as famílias e explicar o projecto, no qual a maioria se mostrou interessada; pedi também que as famílias mandassem sapatos velhos e uma muda de roupa, para que pudéssemos usufruir mais livremente do contacto com a terra.

Esta acção tinha como objectivos gerais:

- Contacto directo com a natureza;

- Criação de laços de respeito e harmonia com o espaço exterior, tirando o maior proveito possível deste contacto com a natureza e com todos os seres vivos que irão coabitar na nossa horta;

- Conhecer o processo e tempo de crescimento das plantas;

- Apresentar a horta às crianças das outras salas, de forma a fomentar as relações entre todas e dar a conhecer o trabalho feito pela sala 4;

- Promover a educação ambiental;

- Despertar para a preservação e conservação do ambiente;

- Trabalhar em parceria com as famílias promovendo momentos de partilha entre as crianças e as mesmas, convidando-as a colaborar em diferentes acções deste projecto.

Tivemos de esperar que chegasse Março para iniciarmos as plantações, depois do Sr. Domingos da Junta de Freguesia ter fresado o chão. E, no dia 24 de Março, lá estávamos nós, a adubar o chão para depois plantar, e a semear alguns legumes. Para nos auxiliar na plantação tivemos a ajuda do meu Avô. Ninguém melhor do que um profissional do campo para nos ensinar a plantar a horta.

Iniciámos a actividade na sala, onde relembrámos um pouco da história do verdinho e qual o seu objectivo. Depois, mostrei os legumes (fig. 1) que iríamos plantar e as sementes que iríamos semear; como ainda estão muito pequenos e sem os frutos, mostrei as imagens reais correspondentes ao que irá nascer da nossa plantação. As crianças tiveram ainda oportunidade de explorar as sementes e as plantas (fig 2). Com o auxílio da educadora Bárbara e da formadora de lgp, ensinámos o vocabulário que eles ainda não conheciam.

fig.1

fig.2

Após a explicação, os jovens agricultores calçaram as suas galochas. Estavam todos preparados para esta nova aventura na Horta. O tempo lá fora estava frio, mas não foi isso que nos impediu a plantação; a terra já estava pronta e o avô aguardava a nossa chegada.

Começámos por adubar a terra, segundo as instruções do avô; adubámos (fig. 3) apenas alguns carreiros, de forma a termos plantas com verdinho e outras sem, para podermos ver a diferença. Será que há diferença?

fig.3

Depois da terra adubada, foi tempo de plantar. Plantámos alfaces (fig. 4), morangos (fig. 5), couves, favas e coentros. Pelo meio da nossa plantação, encontramos uma minhoca (fig. 6), a qual fez a delícia das crianças que ficaram a observá-la durante bastante tempo; mais uma vez, durante a observação, as crianças partilharam sentimentos e colocaram bastantes questões.

fig.4

fig.5

fig.6

No final das plantações, ainda tivemos tempo para cavar a terra (fig. 7); esta parte não estava planificada, mas houve crianças que pediram, e então por que não? Quanto mais oportunidades tiver a criança de explorar, mais experiência e sabedoria adquire. A nossa horta ficou com este aspecto (fig. 8), mas, no final do dia, colocámos garrafões nas alfaces; os garrafões, (fig. 9) para além de fazerem efeito de estufa, protegem também do vento e dos caracóis.

fig.7

fig.8

fig.9


Aprender a cuidar da horta é muito importante. Se não regarmos as plantas e arrancarmos as ervas, dificilmente conseguirá resistir. Então, combinámos que a horta seria visitada 3 vezes por semana, não pelo grupo todo, para não destabilizar a rotina e outros projectos a decorrer na sala. As visitas do cuidar foram/serão feitas aos pares. Um aspecto muito importante do cuidar, foi a sensibilização para o aproveitamento de águas (fig. 10), utilizando a água da chuva que estava armazenada em bidões da escola. Quando a água das reservas terminou, passámos a encher os bidões com água da companhia, de forma a desperdiçar o menos possível. No início, a rega era sempre feita com o auxílio de um adulto (fig. 11), mas com o tempo e à medida que as crianças iam demonstrando interesse, esta tarefa era feita autonomamente. Mas o cuidar não se ficou só pela rega, passando também pela apanha das ervas daninhas que perturbam o crescimento dos legumes (fig.12).

fig.10

fig.11

fig.12

Já tínhamos a horta plantada e regada, já tínhamos aprendido que era importante cuidarmos do espaço à volta das plantas para que estas pudessem crescer melhor. Mas faltava identificarmos a nossa Horta, colocar etiquetas para que quem visitasse a Horta soubesse o que estava ali plantado (fig. 13)

fig.13

Os legumes da nossa horta estavam a crescer a olhos vistos, os nossos morangueiros deram os primeiros morangos mas, como a mãe natureza é mesmo assim, vieram os passarinhos e comeram-nos (fig.14). Ficamos um pouco tristes com a situação, mas não podíamos baixar os braços, então, decidimos por mão à obra e fazer um espantalho (fig.15)

fig.14

fig.15

A festa do dia da Mãe foi o culminar do meu projecto, foi o dia em que todos os objectivos desta grande fatia intitulada – “Em harmonia com o espaço exterior” – foram cumpridos. Quando iniciámos o projecto da Horta, todas as famílias foram convidadas a vir conhecer e desfrutar alguns momentos na Horta, mas nenhuma família se demonstrou disponível para o fazer. Então, aproveitámos a festa do Dia da Mãe para fazermos uma visita guiada à nossa Horta, ocasião ideal para explicar, ensinar e partilhar com as famílias os conhecimentos adquirimos referentes a esta temática.

Iniciámos esta actividade com uma aula de língua gestual, onde as crianças ensinavam ás suas famílias alguns gestos relacionados com a horta (fig 16).

fig.16

Esta partilha com as famílias é muito importante para as crianças, uma vez que sentem que as famílias estão empenhadas em entrar na sua cultura, a aprender a sua língua e, assim, estreitando as relações que existem entre a criança e a família. Este tipo de actividade promove a auto-valorização e uma melhor aceitação do Eu enquanto criança surda, uma vez que a criança sente que se faz compreender e que é compreendida.

Depois da aula de língua gestual e uma pequena amostra do trabalho desenvolvido na horta, a partir de uma apresentação de fotografias, as famílias foram convidadas a passear pelos espaços verdes da escola, até à horta da sala 4, onde cada menino a apresentou às suas famílias (fig.17). Como um dos grandes objectivos da horta era que as crianças provassem o que haviam plantado, cada criança colheu uma alface (fig.18) (único legume pronto para ser colhido) para oferecer à sua família (fig.19). Para algumas crianças, esta actividade surgiu como uma tentativa de as incentivar a comer verduras em casa, uma vez que estas foram plantadas e regadas por elas.


fig.17

fig.18

fig.19

O educador nunca deve esquecer que a parceria com as famílias é um dos pontos chave para que a criança se sinta confiante e motivava a aprender, como nos diz Portugal (2008) “trabalhar com os pais parece ser a melhor estratégia para a promoção do bem-estar e desenvolvimento da criança, dada a relação de maior intimidade e envolvimento com as crianças, conhecimento da individualidade e história da criança”.

FIM

3 comentários:

  1. E eu digo, bendita a sorte das crianças que por ti passarem.
    Gostei muito colega.
    felicidades...

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  2. Obrigada querida Sónia... Foi muito gratificante todo o trabalho que desenvolvi.
    Beijinho grande

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  3. Concordo em pleno com a colega Sonia. Parabéns pelo teu trabalho amiga! Um exemplo de que com força e coragem tudo se consegue! Beijito grandito

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