sexta-feira, 25 de junho de 2010

A linguagem e o amor

A linguagem e o amor


“ A linguagem evoluiu em nós humanos, à medida que começámos a viver no prazer da intimidade de uma forma que conservou este modo de viver. Desenvolvemos a linguagem porque nos tornámos animais de amor. Os humanos são esses animais que expandiram o viver no amor”.

Humberto Maturana e Francisco Varela

Antes de mais, será pertinente definir que o Homem é um ser biologicamente cultural, isto é, um ser que nasce em determinado contexto e que ao longo do seu desenvolvimento vai adquirindo através de um processo acumulativo formas de estar, de agir e de ser. Existe implicado um processo de transmissão de geração para geração onde o indivíduo pode acrescentar aprendizagens de acordo com as suas experiências.
Este jogo cultural ao qual estamos sujeitos permite-nos pensar em cultura como um modo de “aumentar as chances de sobrevivência do grupo, mas também aumenta a sua dependência da cultura para sobreviver”. Esta citação remete-nos a pensar que antagonicamente cultura é um elo de ligação mas também um elo de dependência. Exemplificando, os bebés humanos são a prova mais concreta desta realidade, pois desde que nascem são seres automaticamente dependentes da cultura e do meio onde estão inseridos.
Os pais tornam-se o apoio do bebé e acompanham o seu desenvolvimento. O desenvolvimento da linguagem é um assunto complexo que envolve inúmeros aspectos, desde já será pertinente definir que antes da linguagem existe comunicação, o bebé sabe comunicar através do sorriso e da imitação motora, por exemplo. Portanto, existe uma intencionalidade comunicativa. O contacto com as coisas, objectos e conceitos enriquece a experiência do bebé, mas o adulto também é parte integrante deste processo, através do contacto corporal e da imitação, como espelho biológico, por exemplo quando o bebé chora a mãe dá sinais de angústia e preocupação, espelhando o que vê expressado pelo bebé. O bebé através desta experiência vivida vai desenvolver uma espécie de linguagem interna que o vai permitir associar o conceito mental à palavra.
A interacção adulto-criança é fundamental, pois são as interacções que constroem os vínculos e tornam possível a sintonia emocional, isto é, a capacidade de experimentar a experiência do outro, conseguindo perceber o que este sente e respectivas emoções. Esta sintonia emocional vai desencadear a empatia, ou seja, vai possibilitar a penetração na experiência do outro e ter acesso à sua introspecção, caso contrário o bebé vai sentir que houve uma falha empática e vai expressar-se, por exemplo quando o bebé chora, se a mãe demonstrar cólera, este ouve e apercebe-se da expressão facial da mesma.
Essa sintonia emocional vai construir uma ligação duradoira, difícil de se desagregar aqui entra o papel fundamental do amor e a sua relação com a linguagem que os autores referem, mais do que desenvolver qualquer competência do ser humano é preciso perceber que o amor está na base da vida e “ promove o desenvolvimento produtivo e positivo do ser humano”.
O amor passa por compreender, cuidar e respeitar o bebé e as suas necessidades e ao compreendê-las, estamos a proporcionar segurança e incentivo.
A linguagem desenvolve-se através da vontade de verbalizar, como uma forma de completar o que queremos transmitir e de nos aproximar-mos do (s) outro (s). Através do desenvolvimento da linguagem o bebé, aproxima-se cada vez mais da sua espécie, relacionando-se e criando vínculos para toda a sua vida.

“ Nesse sentido, o amor é uma característica inata da espécie e um dos responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento de todos nós humanos.” Neste processo, de crescimento e desenvolvimento não podemos descurar o processo de hominização, pois o facto de nos termos tornado bípedes, fortaleceu as relações e o contacto entre mãe e filho.
A bipedia permitiu que a gravidez passa-se de 21 meses para os actuais 9 meses de gestação, o bebé tornou-se um ser mais dependente e consequentemente mais imaturo em relação às suas necessidades. Deste modo, a bipedia contribuiu para a formação de vínculos entre a mãe e o bebé, pois esta passa a pegá-lo ao colo numa posição vertical, tornando possível o contacto visual directo e afectivo. A imaturidade gera um grau elevado de dependência, pois o bebé precisa da mãe para se alimentar, para se vestir, para os cuidados de higiene, como um suporte ao longo da sua constante adaptação e desenvolvimento. Daí a relação entre a mãe e o bebé ser tão privilegiada e importante, porque são destas relações de dependência que nasce o amor e os vínculos afectivos que ficarão para toda a vida.
É por isso que somos “animais de amor”, porque no fundo todos dependemos do amor para viver e consequentemente das pessoas que nos fazem senti-lo.
A linguagem é deste modo privilegiada pois, é a única forma de expressarmos aquilo que sentimos por palavras.





Referências Bibliográficas

- Braz, L. (2006) - Psicologia para América Latina- revista electrónica de la unión latinoamericana de entidades de Psicologia -Reflexões sobre as origens do amor no ser humano. Universidade Paulista- UNIP (Brasil).

- Bussad, V; Ribeiro, F. (1998) “Biologicamente Cultural”. In SOUZA, L; Freitas,Q.; Rodrigues, P. (Orgs.) Psicologia: Reflexões (Im) Pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Cátia Mourato

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