sexta-feira, 25 de junho de 2010

A importância de brincar

A criança começa a brincar antes de saber falar e andar, ou seja, “O recém-nascido «brinca»” (Kishimoto, 1998, p.115), todas as crianças brincam e nem tão pouco precisam de um brinquedo para tal, brincam com o próprio corpo ou com qualquer objecto que tenham ao seu alcance e que possam explorar, inventando histórias e criando novas acções com esse objecto, brincar é, assim, “(…) começar a dar sentido às coisas no processo evolutivo de ser capaz de usar um objecto, uma coisa ou uma situação e…desde o seu inconsciente.” (Onofre, 1996,p.13).
Deste modo, é-nos possível compreender que brincar é, a função principal da vida da criança, pois é, através das brincadeiras, que a criança se liberta, ou seja, dá asas à imaginação, exprime sentimentos e desejos, sendo importante salientar que, quando a criança ainda não sabe distinguir-se a si própria do mundo que a rodeia, o objecto ou brinquedo é experienciado como algo que faz parte de si, tal como, assim o é na relação com a sua mãe, da qual, ainda, não se diferencia. Depois, a criança passa a ter noção de que o seu corpo é separado do da mãe e de tudo o que a rodeia, incluindo os objectos que lhe estão mais próximos. Ela confronta-se, agora, com esses objectos, tentando agarrá-los e sacudindo-os, deixando-se surpreender com o resultado das acções sobre os mesmos e repetindo as acções para se certificar do efeito provocado. Ela explora, investiga, aquele “algo” que se vai ou não modificando perante a sua acção, vai, progressivamente, identificando o objecto e desenvolvendo as suas percepções, os seus sentimentos.
A primeira forma de jogo representada ao nível sensório-motor, e que vai mantendo ao longo do seu processo evolutivo, é o “jogo de exercício” (Piaget, 1995, p.57) que não implica qualquer forma de simbolismo ou técnica e consiste na repetição das acções, com a finalidade de adaptar o conhecimento que retira das mesmas aos seus esquemas mentais. Começa apenas como forma de compreensão, partindo depois para o jogo do prazer em repetir a acção.
Mais tarde, com o surgimento da função simbólica, a criança terá a capacidade de utilizar esse objecto com uma função diferente daquela que lhe é destinada. “O “objecto” irá tendo uma resposta-imagem à medida do miúdo, que lhe irá dando


significados e símbolos.” (Onofre, 1996, p.14). Ela joga pelo prazer de jogar, pelas sensações que isso lhe transmite, seja ao nível motor e físico, afectivo, emocional ou psíquico. “(...) ele irá tomar posse de algo exterior a si, em primeiras experiências criativas, simbólicas e «brincadas»” (idem). A criança tem, neste momento, a capacidade de se isolar, mesmo estando no meio do grupo, estabelecendo uma relação constante do seu mundo interior com o exterior.
O brinquedo em si não é a justificação, mas sim um meio através do qual se atinge algo. Mesmo quando não existe um brinquedo, a criança tem a capacidade de o recriar noutra coisa qualquer. O brincar é, assim, um expressar de emoções e sentimentos contidos na alma da criança, é a capacidade de criar um mundo de “ faz de conta” e, é desta forma que a criança vai ganhando e melhorando a sua auto-estima, bem como construindo a sua personalidade.
É crucial especificar, que o brincar é considerado uma actividade indispensável ao desenvolvimento de qualquer criança, na medida em que o brinquedo é, um meio de enriquecer as percepções das crianças, permitindo desenvolver nela o conhecimento das formas e cores. Para a criança, brincar é um prazer, é uma forma de relaxar e de se expressar consigo mesma, brincar é, uma actividade elaborada, que desenvolve várias capacidades e competências na criança, isto é, “Brincar não é uma actividade feita de gestos gratuitos e sem nexo, pelo contrário, é uma das actividades mais elaboradas, para além de indispensável, pois desenvolve a criatividade, o imaginário e a imaginação, a alternância e o sentido figurativo, representativo e a organização dos gestos, das falas e dos cenários.” (Cordeiro, 1996, p.12).
Relativamente, às crianças institucionalizadas no “Sol dos Meninos”, o brincar é uma prática descoordenada, na minha opinião, ou seja, desde que estou na instituição, ainda não consegui ver uma brincadeira estruturada por parte das crianças, pelo menos não com objectos, quando agarram determinado objecto depressa o partem, têm tendência a querer os objectos que os outros têm e, acabam por se “baterem” e “morderem”, com a frustração de não terem o que querem. Tenho insistido na negociação entre eles, mas é algo difícil de instituir naquele espaço, pois, na minha perspectiva, as crianças não conseguem lidar com a frustração.


No entanto, é notório que as crianças interagem melhor em brincadeiras de exterior ou quando brincam sozinhas, o que também é relevante, e não deixa de ser brincar, pois a criança brinca com liberdade, liberdade essa que lhe permite entregar-se, verdadeiramente, na actividade, desenvolvendo, assim, a sua autonomia. Porém, o brincar em conjunto é muito importante, na medida em que partilhar os brinquedos com outras crianças, reforça o seu papel como ser social.
É fulcral ter em conta que “Brincar é normal, desejável, é extremamente pedagógico e terapêutico, para além de ser uma actividade com vantagens em termos biológicos, psicológicos e sociais. Não há nada mais instintivo do que brincar.” (Cordeiro, 1996, p.12), deste modo, a brincadeira não é apenas um momento de diversão, mas, sobretudo, de aprendizagem e formação.
Cabe ao Educador de Infância estimular e incentivar a criança para a brincadeira sem, no entanto, a condicionar. Quando necessário e sempre que a criança desejar, o Educador pode também participar nas brincadeiras, visto que “ O jogo é um trajecto cultural em experiência constante (…) tendo o Educador que criar todas as condições para que a criança possa fazer aquilo que tem direito: Brincar!” (Onofre, 1996, p.12).
Contudo, embora não haja necessidade de ensinar a criança a brincar, uma vez que é um dom que já nasce com ela, nós adultos poderemos propor diversos brinquedos, adequados à sua idade, para que esta aprenda a manipulá-los e a explorá-los sozinha, experimentando, assim, vários sentimentos, pois “ É aprendendo a manipulá-los e a utilizá-los que a criança vai descobrindo a si própria e se vai adaptando à realidade circundante. Na relação estabelecida entre a criança e o brinquedo, estão simultaneamente contidas as qualidades estimulantes do objecto lúdico e as capacidades de resposta de quem brinca. A alegria e o prazer de brincar surgem quando a criança pode agir livremente, dar resposta adequada às características do estímulo que lhe é apresentado ou ultrapassá-las de modo criativo.” (Pais, 1989, p.5).
É aqui, que na minha opinião, existe uma grande lacuna no CAT em questão, pois existe uma grande variedade de brinquedos ao dispor das crianças, mas nem todos são próprios para as suas idades, a selecção que é feita é por ser bonito e não por ser adequado ao desenvolvimento da criança, é importante ter conta que as brincadeiras da criança também se tornam importantes na medida em que, através das mesmas, o adulto


consegue, por vezes, detectar certos sentimentos negativos relativamente à criança, muitas vezes escondidos/ recalcados, ajudando-a, assim, a ultrapassar possíveis inquietações, medos, enfim…situações que infelizmente podem ser problemáticas para a criança.
É de focar que uma das crianças do CAT, tem medo de bonecos partidos, ou seja, se a criança vir uma boneca só com cabeça ou só com corpo, começa a gritar e chorar pela casa, o mesmo acontece quando anda de baloiços e escorregas, ao início a criança não andava de escorrega, até que começámos a ir com ela e, de momento, este medo foi ultrapassado. Uma outra criança, tem medo de animais, cujo, o tamanho é superior ao seu, estima-se que tenha tido alguma má experiência com animais, especialmente com cães, pois a criança começa a gritar e a chorar desesperadamente e «sobe» o adulto o mais que pode. Por este motivo, se diz que o brincar é uma terapia, pois ajuda a criança a libertar sentimentos de stress, entre outros “ A brincadeira é, também, uma forma de inteligência infantil que possibilita o desenvolvimento da memória e da recordação voluntárias. De outra parte, funciona como uma actividade na qual o exercício da autonomia é obrigatório, tendo em vista as escolhas evidentes que são exigidas da criança. Por último, é um processo imaginativo que acciona o pensamento divergente para a resolução de problemas e situações num plano ideal e livre das pressões situacionais.” (Wajskop, 1999)
Tal como, a professora Ana Bela referiu numa aula, o brincar é fundamental à vida de qualquer ser, o brincar é a vida, pois é a brincar que as crianças aprendem. As crianças necessitam de brincar e quando não o fazem é muito grave, é tão grave quanto uma criança que não come e não dorme. Portanto, o brincar está na base do desenvolvimento de qualquer criança. Através do brincar, a criança desenvolve-se a nível cognitivo, físico e social.
Deste modo, o brincar tem como intuito, encorajar o processo de socialização, ajudar a ser curioso, proporcionar experiências e vivências que permitam “entender” que há várias formas de estar no mundo e que a criança deve respeitar o caminho dos outros.1
Em suma, é importante salientar que “ É importante brincar. Quando se brinca, durante um breve período de tempo é como se viajássemos fora da realidade, e


comportamo-nos como se o mundo fosse diferente. Podemos assumir a identidade e vestir a pele de outra pessoa. Pode-se imaginar que se vive noutro sítio, ou que se ocupa outro espaço físico. Cada tipo de brincadeira ensina uma nova experiência, dá uma nova visão e abre uma janela para outra realidade. Quando se brinca, podem-se cometer erros, tornar os sonhos realidade e rir de nós mesmos - tudo isso sem que ninguém nos culpe. A brincadeira permite-nos pôr de lado as preocupações diárias e ficar completamente absortos em outro mundo. Por vezes, pensa-se que brincar é só para as crianças, mas é claro, que brincar é possível - e vital - para todas as pessoas.” (Rooyackers, 1996, p.5)








































Referências bibliográficas:


 CORDEIRO, Mário - Homo Ludens ou como aqui se defende que os bebés também brincam, Cadernos de Educação de Infância, nº 40, Dezembro, 1996.
 KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O Jogo e a Educação Infantil. Pioneira, 1998.
 ONOFRE, Pedro Soares: Antes do poder do adulto o princípio era…O Brincar e…antes da invenção da escola, o princípio era o jogo in Cadernos de Educação de Infância, Dezembro, 1996.
 PAIS, Natália - “ A Criança e o Brinquedo” in Cadernos de Educação de Infância, nº10, 1989.
 PIAGET, Jean; INHELDER, Barbel; A Psicologia da Criança; 2ª Edição; Lisboa: Edições ASA; Dezembro 1995.
 ROOYACKERS, Paul - 101 Jogos musicais para crianças; Mem Martins: Lyon Multimédia Edições, 1996.
 WAJSKOP, Gisela - Realidade educativa e inteligência infantil na brincadeira, C.E.I, nº 49, 1999

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