quinta-feira, 17 de junho de 2010

Entre a Família e a Escola, A Criança Mensageira e Mensagem

Entre a Família e a Escola,
A Criança Mensageira e Mensagem


O capítulo em referência – Entre a família e a escola, a criança mensageira e mensagem – (In PERRENOUD, Philippe – Ofício de aluno e sentido do trabalho escolar) é da autoria de Philippe Perrenoud, foi editado em 1995, no Porto, na Porto Editora e tem 28 páginas.
Philippe Perrenoud, sociólogo suiço, refere-se às crianças como sendo eternamente esquecidas na relação entre a família e a escola, porém é por elas, para elas e com elas que essa relação existe. Segundo este autor as crianças, para além de serem portadoras de mensagens e serem elas próprias uma mensagem (são portadoras de sinais que podem constituir uma fonte de informação), desempenham um papel fundamental de go-between.
Este capítulo começa por nos mostrar que é cada vez mais comum e importante haver comunicação entre a família e a escola, apesar de, nos dias de hoje, ainda existirem muitos pais “desligados” da importância que este acompanhamento traz para o futuro dos seus filhos. Eu concordo plenamente com o autor e penso que esta comunicação ajuda, de alguma forma, os pais a educarem os seus filhos, já que não conseguem acompanhá-los sempre de perto. A escola tem cada vez mais um papel fundamental na educação das crianças.
Pais e professores tendem a pensar que têm conhecimento suficiente para se acharem sempre donos da razão, esquecendo que as crianças nascem já com a sua personalidade. Com o passar dos anos os adolescentes costumam considerar-se autónomos e independentes, querendo começar a usufruir da sua “pequena liberdade”, o que por sua vez dificulta a comunicação entre os pais e o adolescente. Mais cedo ou mais tarde há um “afastamento” que é inevitável, porque os adolescentes começam a dividir o seu tempo entre a família e outros grupos de pertença. O ideal seria esses grupos de pertença estarem em sintonia com os pais, mas isso nem sempre acontece, o que leva o adolescente a tomar partido de um dos lados. Geralmente, mesmo que a criança mude de meio, há sempre outro adulto que assume um papel de responsabilidade perante a criança. De acordo com o autor, “A criança escolarizada não é livre de gerir à sua maneira a sua dupla pertença.” (Perrenoud, 1995: 32).
Na minha opinião, a família e a escola estão dependentes uma da outra; tem que haver um trabalho de cooperação, visto que de outra forma poderá existir espaço para falhas de comunicação entre elas, bem como más interpretações de informação que tanto os pais, como a escola querem transmitir.
O autor refere também outro tipo de falha de comunicação que ocorre se a criança assim o entender, pois ela acaba por ser o elo de ligação entre a escola e os pais, como tal, é necessário chegar-se a um consenso para se conseguir um bom entendimento entre a criança/família, a criança/escola e a família/escola.
Na grande maioria das vezes a família julga-se detentora das decisões dos seus filhos, não deixando espaço para que estes manifestem as suas opiniões e interesses. Os adultos caem muitas vezes no erro de se esquecerem o que a criança sente e como o sente. Como refere Perrenoud (1995) “Por vezes, pais e professores encontram-se sem que a principal interessada saiba e mesmo quando está ao corrente do que se passa, nem sempre é convidada ou informada sobre a exacta razão de ser da conversa.” (p. 35). Claro que depois nem todas as crianças reagem da mesma maneira, visto que depende, em grande parte, da personalidade de cada uma. Existem aquelas que gostam de ouvir e opinar em relação aos assuntos discutidos e por outro lado, há aquelas mais reservadas que interiorizam tudo, não dando o seu parecer.
O autor aborda ainda a metacomunicação que podemos denominar de encontros directos, onde há um confronto entre pais e professores, com o fim de perceber se o que os filhos lhes transmitem é verdadeiro ou não. Todavia, “Será que a criança tem um interesse permanente em que tudo seja claro entre os seus pais e os seus professores? Decerto que não!” (Perrenoud, 1995: 37).
Quando, entre a escola e a família, há troca de mensagens escritas a criança é que tem um papel relevante, porque ela é a portadora dessa mensagem. De acordo com o autor, se o que quiser transmitir for positivo para a criança fá-lo-á sem qualquer tipo de restrição, caso contrário, a criança tenderá a omitir essa mesma informação uma vez que poderão advir daí algumas penalizações. A criança também pode criar estratégias para “desviar”, esquecer ou falsificar as mensagens escritas de modo a minimizar ou evitar as consequências. Contudo, depois da escola ou dos pais terem conhecimento destes comportamentos ficam mais atentos e adoptam outra postura em relação a essas mensagens, usando por exemplo, os correios, entre outros.
Há outro tipo de argumentação por parte da criança, que tem a ver quando, em certas situações, ela, como portadora da mensagem, poder justificar os seus “actos” de modo a minimizar os factos apresentados. Deste modo, os pais e os professores acabam quase sempre por confiar na criança; eu penso que muitas vezes são eles próprios que arranjam desculpas e argumentos viáveis para justificar tanto as falhas, como a opinião dos pais em relação aos professores e vice-versa.
Existem também as mensagens que são transmitidas oralmente, isto é, tanto a escola como a família recorrem às crianças para passarem determinadas mensagens. Todavia, a influência das crianças neste tipo de comunicação é superior. Por outro lado, os pais, bem como os professores servem-se das crianças para criticarem ou darem outro tipo de opinião em relação a eles próprios, evitando assim o confronto directo entre eles. Quando este estratagema não é utilizado pelos pais e professores, criam-se climas de insegurança, instabilidade e falta de confiança, acabando, muitas vezes, por terem estes comportamentos de forma inconsciente. Mas, há que ter em conta que “À medida que crescem as crianças são cada vez menos enganáveis. Aprendem que certas mensagens são fórmulas de retórica e que outras permitem aos adultos “esconder-se” atrás do mensageiro. Podem então, segundo os seus próprios interesses, prestar-se à manipulação ou inviabilizar o jogo!” (Perrenoud, 1995: 42).
Na minha opinião, quer os professores quer os pais deveriam ter mais cumplicidade entre eles, de forma a contribuírem para que as crianças tenham uma educação melhor. Menciono isto porque, muitas vezes, os adultos, por causa do seu ego, esquecem-se do mais importante que é o bom desenvolvimento das crianças.
O autor fundamenta que os pais têm direito de interferir na pedagogia praticada na escola dos seus filhos, mas que os professores não o podem fazer, uma vez que têm um papel “secundário” na educação. Relativamente a este aspecto discordo do autor, porque sendo a escola, na generalidade, a segunda casa das crianças, os professores têm um papel fundamental no seu desenvolvimento e crescimento.
É sempre complicado para os pais e professores perceberem se o que as crianças dizem é realmente o que pensam ou se foi alguma coisa sugerida por adultos, pois há crianças que se aproveitam desses argumentos para terem uma posição mais firme e existem outras que revelam logo quem mandou tal “recado”. Estes factores dependem, claro, da personalidade de cada criança. Já no meu tempo era normal chegar a casa e relatar o que tinha feito ao longo do dia aos meus pais e, muitas vezes, transmitia-lhes opiniões que os professores davam. Posto isto, existem diversos casos em que os pais se sentem lesados com determinados comentários feitos pelos professores, pois são situações que põem em causa a educação e os valores transmitidos pelos pais. Segundo o autor, “O professor sente-se observado pelas crianças e, através delas, pelos pais.” (Perrenoud, 1995: 47).
Eu sou da opinião que deveria haver mais sensibilidade por parte dos adultos ao fazerem juízos sobre o que quer que seja e terem o devido cuidado com o que dizem à frente das crianças, pois apesar de não parecer, grande parte das vezes, assimilam tudo e, mais tarde poderão usar esses mesmos argumentos.
Tal como as crianças têm diversos tipos de personalidade e as suas atitudes dependem, em grande parte deste factor, também os professores têm vários tipos de comportamento e encaram o seu trabalho de forma diferente.
No meu ponto de vista é crucial que nós, enquanto educadores, estejamos disponíveis para conhecer as famílias dos nossos educandos, porque sem dúvida que através deste conhecimento conseguimos compreender muitos dos comportamentos, reacções e atitudes das “nossas crianças”, podendo intervir de uma maneira mais coerente. Mas é verdade que “(…) alguns professores interessam-se muito pouco pela vida familiar dos seus alunos, outros consideram muito importante saber mais para poderem compreender as crianças que têm à sua frente.” (Perrenoud, 1995: 48).
Na maior parte das vezes a criança não se apercebe que transmite sinais, comportamentos, atitudes, maneiras de estar, entre outros, tanto para os pais como para os professores. Este conjunto de factores são todos indicadores do meio envolvente ou do contexto de vida de cada criança. Como tal, “A criança deixa então de ser um mensageiro. Passa a ser ela própria a mensagem e exprime o seu meio familiar sem o querer na medida em que o é.” (Perrenoud, 1995: 50).
Em jeito de conclusão, a criança é um ser extremamente complexo, vista “(…) como um espelho e um símbolo do casal, do seu amor, da sua capacidade para criar um novo ser perfeito em todos os sentidos.” (Kellerhals; Pasini, 1976, cit. In Perrenoud, 1995: 51). A sua educação requer muita disponibilidade e atenção por parte da família e da escola. Implica um processo de crescimento entre todos, pois todos temos um papel de mensagens e mensageiros!

Referência Bibliográfica

· PERRENOUD, Philippe – Entre a família e a escola, a criança mensageira e mensagem In PERRENOUD, Philippe (1995) – Ofício de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto: Porto Editora. Pág. 29-56.

1 comentário:

  1. Raquel

    De facto, os
    comentários que os adultos fazem em frente das crianças são muito, frequentemente, muito violentos, e configuram mautrato psicológico. É necessário estar sempre atento e reflectir sobre o comportamento dos outros e sobre o nosso de uma forma constante para não cometer este erro.O seu comentário é muito importante para ser partilhado. Obrigado.
    Professora Luísa carvalho

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