terça-feira, 22 de junho de 2010

Desafio aceite: O Papel das Artes na Construção do Saber Ser

Em resposta ao desafio lançado pela professora Luisa Carvalho, aqui partilho a experiência adquirida ao longo de 14 anos na Ludoteca " O Moinho".
No entanto, tenho que recuar até à minha infância. Há trinta e alguns anos atrás tive a sorte de ter uma professora na escola primária (era assim que se dizia) que reconhecia o contributo das artes na educação das crianças. Ao contrário do que ainda se hoje verifica, a minha professora na me dava "fichas" para pintar...dava-me folhas em branco para eu criar e imaginar; não ocupava todo o tempo de aulas a ensinar a fazer contas... dava tempo e espaço para fazermos teatro; eu não tinha que decorar todas as linhas de caminho de ferro de Portugal... ensinava-nos canções e dava-nos instrumentos para as mãos. Era assim a minha professora. Ao mesmo tempo tinha uma contadora de histórias só para mim, a minha avó Madalena. Juntas , avó e neta, "bebiamos" cada palavra que era dita e ouvida e lançavamo-nos pelos caminhos dos sonhos e da fantasia, porque quem conta histórias faz Sonhar e quem as ouve sente-se Crescer!
Bons momentos, que hoje reconheço como contributos importantes para aquilo que sou e pela criatividade que me atribuem.
Passados alguns anos, outros momentos de ilusão e fantasia foram vivenciados e experienciados de corpo interiro, agora na Ludoteca "O moinho". Neste espaço a vida fervilha, a arte ganha cor e a magia acontece num percurso de texturas, jogos, animações e afectos que ajudam a crescer. Actua interligando várias formas de expressão que se traduzem de forma globalizante e num processo interactivo.
Tem sido muito interessante verificar diferentes emoções, que vão desde a alegria ao encantamento, estampadas nos pequenos rostos de quem nos visita (nos crescidos também). e mesmo reconhecendo essas emoções, muitos adultos ainda não valorizam o contributo das diferentes expressões artisticas na formação do ser do individuo. Hoje, por exemplo, esteve um grupo de crianças acompanhado pela professora (recem formada na ESE) que manteve uma atitude, desde o inicio até ao fim, de total desprendimento pelo o que estava a acontecer que nem olhava para as personagens. E eu questiono-me: se esta professora não reconhece a importancia destas acções no acto pedagógico, como irá ser a postura destas crianças, quando forem adultas e estiverem perante acções semelhantes?
É curioso verificar que o comportamento das crianças é similar ao do adulto (professor/educador). Se o adulto demonstra interesse e respeita o que está a ver, as crianças apresentam uma atitude activa, interessada e participativa, se o adulto demonstra desinteresse, o grupo apresenta-se passivo.
Nós somos exemplos e temos que ter a consciência que o que fazemos, bem ou mal, é eventualmente imitado.
Ao reconhecer a importancia das Artes no acto educativo, foi, com naturalidade, o tema por mim escolhido para desenvolver o meu Projecto Pedagógico e Investigação - O Bebé a a Arte.
Para tal desenvolvi e aprofundei o modelo educativo Educação pela Arte. Este modelo educativo defende uma educação do sensivel visando " a estimulação e enriquecimento do racional, numa interacção benéfica entre o pensar, o sentir e o agir" (REIS, 2003) e dá ênfase à compreensão da criança, nas suas emoções, interesses e desejos.
Como bases psicopedagógicas da sua acção, a Educação pela Arte utiliza, essencialmente, os principios da espontaneidade, da actividade, da experiência, da ludicidade, da criação e da expressividade, não apenas numa ou noutra, mas em todas as áreas artisticas de uma forma globalizante.
As expressões artisticas espontaneas, numa intencionalidade educacional, irão ter um papel de promoção harmoniosa, para o evoluir quer da psicomotricidade, quer a nível afectivo e cognitivo. A partir deste pressuposto a criança vai-se conhecendo a si, aos outros e ao meio, através de modos de expressão que dispõe e que descobre, quer através do movimento, dos gestos, das cores, dos traços, dos sons, quer através da voz e da palavra, propiciando assim, o equilibrado desenvolvimento da personalidade da criança.
Resumindo, a Educação pela Arte, apela , sobretudo, ao desenvolvimento da capacidade de expressar emoções e sentimentos, ao desenvolvimento das capacidades de imaginar, fantasiar e criar, não no sentido de "criar" individuos com capacidades artisticas desenvolvidos, mas "criar" individuos activos, equilibrados, com poder de decisão, com espirito critico e sentido estético.
A Alteração do papel do educador também se exige. em Educação pela Arte o educador não dirige, orienta; não é mestre, é parceiro; não é supervisor, é cúmplice, que acredita nos processos e não nos "produtos finais".
A Educação pela Arte caminha no sentido oposto da passividade, do conformismo e da obediência. Na verdade não se pretende criar artistas, mas individuos que se assumam como artesãos na dificil Arte de Crescer e Viver!

1 comentário:

  1. Lina

    Gosto de ver e ler que aceitou o desafio. O seu testemunho é um bom exemplo da importância da atitude do educador. Leia o livro de Pedro Onofre " A criança e a sua psicomotricidade" e encontra a sua perspectiva largamente fundamentada e vivenciada.um livro fascinante embora da área da intervenção terapêutica.
    Professora Luísa Ramos de Carvalho

    ResponderEliminar